Acabei de chegar de uma viagem pequena – de Alcoutim até Faro. Vim no banco de trás, a olhar para o céu nocturno cheio de estrelas. A lua está minguante, durante um bom bocado a estrada não é iluminada e há poucas cidades grandes no caminho. Céu negro, portanto, e muitos pontinhos brilhantes. Fez-me lembrar as viagens de Beja até casa, no R12. Vínhamos os três cá atrás, os meus irmãos a dormir e eu sentada, de testa encostada ao vidro do carro, a olhar para as estrelas. Quando havia lua, entretinha-me a vê-la mudar de lugar conforme a estrada virava numa direcção ou noutra. Entre esses dias e o de hoje, a diferença que mais notei foi que no R12, como os comandos não eram iluminados, a escuridão era quase total. Os carros hoje têm luzinhas por todo o lado, reflectem-se irritadamente nos vidros – dá uma trabalheira tapá-las com a mão e olhar lá para fora, para um céu preto em que os únicos pontos iluminados sejam as estrelas.