(Ou: "Sem surpresas", o que seria ao mesmo tempo mais verdadeiro mas, num terço, mais desanimador.)
Compro o nº 31 da revista Os Meus Livros porque leio na capa que tem um artigo sobre/entrevista a José Carlos Fernandes, paixão confessadíssima, sempre que possível ao próprio JCF. Faço então o que costumo fazer quando como um bolo: começo pelas camadas menos apetecidas, para aumentar o prazer de encontrar aquilo que já espero. Artigo sobre Luiz Pacheco, sempre bom, apontamentos sobre editoras e bibliotecas, destaques bibliográficos... a cada passo, vão-me irritando mais e mais os descuidos, a muito evidente falta de revisão em toda a revista. Mas, tal como quando saboreio o bolo, perdoo calada os pedaços azedos, na expectativa da cereja lá em cima. A primeira surpresa é feliz: as fotografias e a extensão (6 páginas) do artigo. Porém, à medida que entro letras adentro, cresce o desânimo: lá vêm as gralhas, os descuidos, as frase construídas sem atenção às que vieram antes e ao que se segue e algum atabalhoado nas perguntas. Que mal tem cuidar daquilo de que se gosta? Se se quer homenagear alguém que se admira, acredito eu que se lhe deve ao menos o respeito da forma da homenagem. Estarei errada? Fico até a saber, como se uma imprópria inconfidência mo fizesse saber, que JCF "pratica intertextualidade" com "diversos autores" - assim como quem vai ao ginásio praticar aeróbica, ou se dedica a práticas que mais avisado seria deixar no desconhecimento público. Abano a cabeça. Não abano a cauda.