O chão do quarto do avô é de uma tijoleira velha, muito esburacadinha e velha. É mais do que porosa. Tem a cor da terra e é má de varrer que só visto. Mas é o chão do quarto do avô. Foi esse chão que pisei, um dia de muitos. Tinha chegado ao monte era já manhã avançada e estranhara não ver o avô a pé. (Quando entrei na cozinha, o Reboliço, deitado à lareira, só abanou a cauda um bocadinho.) Disse-me a avó que ele estava “ali para o quarto, hoje não se quer erguer.” “Posso ir lá vê-lo?” “Vai, vai lá que ele ainda está deitado.” Encontrei-o sentado na cama, cabisbaixo. Não sei se tinha os olhos fechados, mas todo o rosto olhava o chão, a tijoleira já gasta. O cajado ainda estava encostado à cabeceira. Levantou a cabeça só o suficiente para me dar um sorriso pálido. “Então, avô? O que se passa hoje?” “Ai, filha...”, começou, com a voz triste. “Às vezes entra-me uma paixão pelo organismo...” Foi quanto bastou para me fazer rir, ele olhar para mim, os olhos sorrirem-lhe e passarmos adiante. Para mais aquele dia, para a vida.