domingo, 4 de março de 2007

A Lua

O avô chamava-me à parte, assim que eu regressava de algum lugar fora dali. "Como é o Sol nesse lugar? É o mesmo que aqui?" "É, sim, avô. É igual a este." Esta noite dir-lhe-ia que é assim como a Lua. Está cheia, vai alta, sobre o céu escuro sem nuvens destes montes para cá de Los Angeles. Esquece-se uma pessoa que está num dos sítios mais urbanos do mundo. Esquece-se que, umas estradas abaixo, os centros comerciais desfeiam a paisagem e sucedem-se, iguais, iguais, com os mesmos painéis publicitários, as mesmas portadas neo-egípcias, as mesmas filas de automóveis. Aqui onde estou agora, avô, há um quintal com galinhas, recolhidas a dormir nos poleiros, uma escada de pedra que vai entre as árvores e uma cascata pequena. Aqui, avô, com gente que conheceste e se recorda de ti - e me recorda de ti - a Lua é a mesma Lua. A que tu vias desde o moinho, quando te sentavas à sua porta de ombreira encarnada, em noites como esta, ventosas e pouco frias.
(Em Barcelona deixarão, por pouco tempo, nada muito, de a ver. Farás fotos, meu amigo?)