sexta-feira, 18 de maio de 2007

Pasolini (outra vez)

V

Ogni giorno è l'ultimo
nello stupore dell'afa mattutina,
delle fresche voci: e a cosa importa
essere chiari, dentro, per soffrirla
nella intera estensione del suo tempo
se l'ora della vita è sempre l'ultima?
L'averla troppo sofferta, e quindi
consumata: ecco perché vivo nel miracolo
di vederla ancora intatta. Nessuno
sa più di me goderla con tanto infantile
e femminile abbandono, ma nessuno
sente più di me quella vergine gioia
come un sacrilegio.


V

Cada dia é o último
na paralisia da manhã quente,
das vozes frescas: e que importará
ser lúcido, por dentro, para sofrê-la
na inteira extensão do seu tempo,
se a hora da vida é sempre a última?
Tê-la por demais sofrido, e assim
consumido: eis porque vivo no milagre
de vê-la
ainda intacta. Ninguém
mais do que eu sabe gozá-la com tão infantil
e feminino abandono, mas ninguém
sente, mais do que sinto, essa alegria virgem
como um sacrilégio.

(Atrevi-me a traduzir um dos poemas póstumos
, que transcrevi daqui.)