quarta-feira, 4 de julho de 2007

Founding Fathers - ou, No Princípio Era o Acto (ou, Este post daria antes uns três ou quatro diferentes)

(Acabo de ver Flags of Our Fathers, uma história das narrativas da História a partir de mitificações, de ficções.)
Há um mês atrás, mais coisa menos coisa, numa comunicação cujo título se inspira no poema de Rupert Brooke, Eelco Runia descreveu a sua teoria da vertigem narrativa. Segundo ele, na História tendem a dar-se acontecimentos imprevisíveis, brutais, traumáticos - para os quais apenas a posteriori se constroem narrativas justificativas. Runia chama a isso a "gravidade narrativa" - os eventos tendem para as narrativas, assim como os objectos para a queda.
No dia a seguir, ouvi Kathleen Sullivan perorar sobre "The imagination(s) of the Founding Fathers" e questionar-se sobre os antecedentes da Constituição Americana, o momento da sua composição e realidades (como o direito de voto das mulheres, dos negros e dos pobres, por exemplo) que, não tendo sido imaginadas pelos fundadores, se vieram a impor ao longo dos séculos e continuam a ser reguladas pela letra do texto de 1787.
Pensei, juntando as duas palestras: a Constituição, ao mesmo tempo verbo e acto, será evento brutal (vista como trauma da separação de Inglaterra) ou posterior narrativa de justificação? É um avançar para o desconhecido abismo da História, ou um retrocesso reflexivo, uma narrativa de quem olha para trás?