quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Magrelli

Elegia

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
and don't have any kids yourself.
Philip Larkin

Se tudo o que cresce e arde é brasa,
o amor
é visão da pira.
Pensa no Ver
ão,
que nasce a perder sangue
numa sorridente hemorragia de luz.
Aquilo que te
é caro morre, aquilo que morre
é-te caro, se algo te é caro é porque morre. E eis o corolário:
"Aquilo que te
é caro é apenas a sua morte."
É de noite, no quarto dos meus filhos.
Deitado, junto a eles ou
ço-os pigarrearem.
Um bosque no escuro. Pousam
sobre os meus ramos o peso quente e vivo da voz,
um peso-voo trepidante.
Ou deverei crer que sejam só
as pontas
incandescentes de um fogo meio gasto,
desfeito, meio frio, de um ti
ção
j
á negro e mudo, já mudo,
meio morto?

(Valerio Magrelli, 1957- , traduzi do italiano, que encontrei publicado no nr. 6 da revista Mantis, p. 22. Gostei da vertigem dos versos 6 a 8.)