domingo, 17 de agosto de 2008

Escreve Teixeira de Pascoaes a páginas 148 de O Penitente:

"Só os poetas conhecem o mundo, e podem falar dele, nas suas obras. Só eles, de alma e corpo, têm um fantasma, que é o viandante de todos os espaços. Esse fantasma, nas outras criaturas, não lhes sai para fora das células, entretido somente a olhar por elas. A inspiração é o espírito essencial do ser aflorado na nossa consciência, para agir na Eternidade e no Infinito."

Onze folhas adiante,

"Trihamos a terra e o céu. A areia do Deserto fica debaixo dos nossos pés; e a nossa fronte prolonga-se nas ideias que dela voam, na de infinito, por exemplo, se é que fazemos alguma ideia do infinito."

(Quem fala na primeira citação? E quem fala, na segunda? Vi algumas vezes a letra de Pascoaes, as maiúsculas e as minúsculas; de cada vez que a vi, quis ser a ponta dos dedos daquele homem, estar na mão dele comandada e saber, entre as veias, a carne e os nervos, o que o levava a desenhar um i grande ou um i pequeno.)