domingo, 26 de outubro de 2008

JCF + outros

O novo livro em que o Zé Carlos Fernandes participa - escreve o argumento, coisa em que, além do desenho, ele costuma ser genial - saiu este fim-de-semana no Festival de BD da Amadora. Nunca fui ao Festival, mas uma oportunidade de ter o JCF a, como ele diz, "estragar os livros" é um motivo do melhor. Elogio da obra, nas palavras de Thomas Hook, fundador da Agência de Viagens Estacionárias Couch Potato:

....Parece que um certo Thomas Kohnstamm, num misto ardiloso de arrependimento e oportunismo, deu à estampa um livro intitulado Do travel writers go to hell?, em que confessa que nem sempre visitou os sítios sobre os quais escreveu para os prestigiados guias de viagens da Lonely Planet. O guia da Colômbia terá sido escrito em São Francisco (EUA) a partir das informações veiculadas por uma namorada de Kohnstamm, que era funcionária no consulado colombiano na dita cidade californiana. Atendendo ao clima insalubre que reina na Colômbia e sendo a qualidade de gringo de Kohnstamm um atractivo que o tornaria num candidato a ganhar uma estadia vitalícia nas colónias de férias geridas por seitas narco-marxistas e ter de passar o resto dos seus dias a aturar o zumbido dos mosquitos e leituras em voz alta de Das Kapital, a opção do escritor parece mais que atilada.
....O director executivo da Lonely Planet declarou-se decepcionado com esta revelação, mas tentou salvar a reputação da empresa, afirmando crer que os restantes guias são credíveis e não são beliscados por esta fuga pontual à verdade.

....Pois eu sonho com um dia em que todos os guias sejam escritos sem visitar os locais e os viajantes que os seguem se percam e frequentem restaurantes não-recomendados e comam o arranjo floral sobre a mesa julgando tratar-se de um prato típico e contraiam doenças desconhecidas da medicina e façam gestos com as mãos que poderão exprimir afecto no Ocidente Civilizado mas que noutras paragens podem querer insinuar que o interlocutor mantém relações íntimas e regulares com caprinos e passem ao lado do rutilante Mausoléu do Rei do Poliuretano Expandido e dos urinóis públicos em que um Artista Pop Famoso foi surpreendido em relações contra-natura e da gruta onde Pigres de Caria escreveu a peça Batrachomyomancia e se esqueçam de visitar a cidade natal do compositor Bohuslav Matěj Černohorský e caminhem inadvertidamente de havainas, boné de baseball e iPod aos berros sobre o túmulo do profeta Al-nasdaq e sejam perseguidos por uma turba enfurecida que os quer fritar em azeite como punição por tão inimaginável sacrilégio.

....Tanto quanto sei, os autores do presente livro levam vidas apagadas, burguesas e recatadas num canto ensolarado da Europa meridional e são pouco viajados, pelo que não têm conhecimento directo dos sítios de que falam – é pois com entusiasmo que recomendo este livro.