domingo, 2 de maio de 2010

O Reboliço espreita enquanto a mãe vai cortando um, dois, três pés de jarros e mais umas quantas folhas largas. ("Tem avondo!", diria a avó.) A mãe deixa o arranjo em cima da cadeira baixa, na cozinha, e o Reboliço avança, toc-toc-toc, o focinho a sujar-se de amarelo e a espirrar o pólen dentro da corola. Faz-lhe gosto e espécie o branco tão liso, quase irreal ao toque. Pensa que a flor vem da mesma terra onde nascem as romãs, a casca do limão, as rugas fundas das folhas da figueira, o caroço rijo da azeitona, o tronco torcido da parreira. Lembra-se que a mãe lhe pediu versos com flores, mas não acredita que algum verso alguma vez possa falar de flor nenhuma.

 (Foto dos três jarros ao sol, antes de serem cortados para dispor na floreira: Reboliço.)