quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Reboliço olha: estirado na pedra do pátio, ao lado da escadaria da villa, um cão grande está entretido. Nem ladra aos que passam, como costuma, a dizer que jamais hão-de transpor-lhe o portão ou o quanto gostaria de se passear para lá dele. Nem isso: do pintalgado corpo molengão, esquecidas as patas de trás, só as da frente se esmeram a segurar um volume de papel destruído, enquanto a boca rasga, esfacela, baba, deforma páginas que são já só uma pasta amarelada com vestígios de traços negros. Em silêncio a cabeça pende, pesada, para um lado e para o outro consoante a vontade da dentada para refrescar o sabor a tinta. Nas vivendas contíguas, em cada quarto ou quinto degrau fronteiro à porta, muito neat e de capa ao sol luzidia, descansa a edição das Páginas Amarelas distribuída durante a manhã.