domingo, 27 de fevereiro de 2011

FEVEREIRO

As nuvens são mais brancas, o céu mais puro.
Agora é tempo de morrer, que a vida se reforça.
O mundo, outra vez desperto perante o azul celeste,
pressente calidamente que deve ter um futuro
     - sempre o sonho que precede a força!
Os ramos da amendoeira sentem, sob a cortiça,
     um movimento suave e obscuro.

     O trevo já verdeja na ribeira.
Agora é tempo de morrer, que a morte não está em lado nenhum.
Tudo treme por não saber o que espera.
A neve soalheira resvala pela geada.
     As torrentes nutrem-se dela pouco a pouco.
Tudo é tíbio e anelante, como se avançasse o fogo
     da próxima Primavera.

Dourados meios-dias dos minguantes de Inverno!
Agora é tempo de morrer, que a vida começa.
Como um fogo invisível, maravilhoso, interno,
sob a terra nua palpita o grito eterno
     da larva, da raiz e da semente.
Era assim que os antigos, em jarras de rústica faiança,
guardavam o vinho de Falerno.
Fevereiro de 1937

(Màrius Torres, A Cidade Longínqua,
tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, OVNI, p. 33.)