Agora é tempo de morrer, que a vida se reforça.
O mundo, outra vez desperto perante o azul celeste,
pressente calidamente que deve ter um futuro
- sempre o sonho que precede a força!
Os ramos da amendoeira sentem, sob a cortiça,
um movimento suave e obscuro.
O trevo já verdeja na ribeira.
Agora é tempo de morrer, que a morte não está em lado nenhum.
Tudo treme por não saber o que espera.
A neve soalheira resvala pela geada.
As torrentes nutrem-se dela pouco a pouco.
Tudo é tíbio e anelante, como se avançasse o fogo
da próxima Primavera.
Dourados meios-dias dos minguantes de Inverno!
Agora é tempo de morrer, que a vida começa.
Como um fogo invisível, maravilhoso, interno,
sob a terra nua palpita o grito eterno
da larva, da raiz e da semente.
Era assim que os antigos, em jarras de rústica faiança,
guardavam o vinho de Falerno.
Fevereiro de 1937
(Màrius Torres, A Cidade Longínqua,
tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, OVNI, p. 33.)