domingo, 13 de fevereiro de 2011

"Ogni testo è contemporaneamente la partita giocata e le regole da giocare." (post dedicado)

E na xícara a fenda abre
um trilho para a terra dos mortos.
(W. H. Auden)

... como quando uma fenda atravessa uma xícara.
(R. M. Rilke)

Recebo de ti esta xícara
vermelha para beber nos meus dias
um a um
nas manhãs pálidas, as perlas
do longo colar da sede.
E se cair a partir-se, quebrado,
eu, de compaixão,
pensarei em repará-la,
para prosseguir os beijos ininterruptos.
E a cada vez que a asa
ou o rebordo se quebrem
voltarei a uni-los
até que o meu amor complete
a obra dura e lenta do mosaico.
~
Desce pelo declive
cândido da xícara
pelo interior côncavo
e luzente, como relâmpago,
a fenda,
negra, fixa,
sinal de um temporal
que continua a troar
sobre a paisagem sonora,
de esmalte.
(Valerio Magrelli, pp. 66 e 68 da edição bilingue. Tradução minha.
O título do post é uma frase do autor na entrevista ao Circolo Culturale Albatross.)