domingo, 18 de dezembro de 2011

Rimas à bomba de água (trazidas pelo pai)

Num destes domingos, o pai entregou ao Reboliço as famosas décimas. Todos os Natais, todas as Páscoas, todas as ocasiões que juntam gente no Moinho, fala-se nas "décimas à bomba". Conta o pai:

Foram feitas pelo tio Manuel Fernandes, irmão da avó Adelaide (mãe do meu pai), a propósito da tentativa de engendrar um sistema para tirar água do poço do moinho, que havia sido aberto em 1956 ou no ano anterior. Os trabalhos de construção da bomba para tirar água faziam-se aos fins-de-semana, com o dito Manel da Fábrica, responsável pela ideia e pela condução dos trabalhos, mais o mestre Duarte, que era o encarregado do armazém de sucata do Luís Serrano e que fornecia grande parte dos materiais para a obra, e mais dois ou três compinchas. Todo este pessoal bebia e comia bem, pelo que eram sacrificados para o efeito um ou dois galináceos, os quais eram sempre copiosamente regados do bom vinho da venda da Ti' Passinhas, casa que já há bastos anos deixou de existir. Ora, foi com base nos trabalhos que serviam de pretexto a estes convívios bem comidos e melhor bebidos que o Ti' Manel, observador, dedicou estas décimas.

MOTE
Manuel da Fábrica fez uma bomba
Que até trabalha sozinha.
Não tira é água nenhuma,
Mas tira carne de galinha.

I
É um dos melhores artistas
Que temos nesta cidade.
Eu confesso a verdade:
Faz tudo às primeiras vistas,
Tem por isso muito valor;
Trabalha que é um primor,
A sua ideia não tomba.
Vai êxitos alcançando,
Para a frente trabalhando -
Manuel da Fábrica fez uma bomba.

II
Levantara o seu nome assim,
Fazendo estas obras de arte.
Tem encomendas para toda a parte:
Isto não mais terá fim.
Faz tudo muito bem feito,
Pois é em tudo perfeito.
Na marcha principal caminha,
Trabalha à sua vontade.
Eu confesso a verdade:
Que até trabalha sozinha.

III
O homem já se aborrece
De tanta encomenda que tem!
Pois vejam lá isto bem,
O que esta ideia merece:
Merece ser bem puxada
Para ver se não esquece.
Dou a minha opinião, em suma,
Que se faça a propaganda.
Tem fama em toda a banda,
Não tira é água nenhuma.

IV
Vou dar-lhes uma novidade
Que faço eu muito bem,
Que não se descubra a ninguém.
É esta toda a verdade:
A bomba faz uma fineza,
Digo isto com vaidade,
E pela verdade caminha.
Não tira água na certeza, 
Trabalha que é uma beleza, 
Mas tira carne de galinha.