domingo, 23 de dezembro de 2012

O Reboliço senta-se à porta da cabeleireira da aldeia. É já noite mas não está muito frio; há só uma brandura que o faz encolher um bocadinho junto ao calor da porta. Lá dentro, riem as mulheres, das histórias do dia.
- A Cristina, a Cristina, ai o que a gente se riu hoje com ela... Esteve aqui a mulher da Mary Kay, que lhe ofereceu uma limpeza de rosto.
- Então, não havia de lhe oferecer?... Se ela lhe vendeu um caderno com trinta rifas - trinta!, até a homens ela vendeu rifas, e era para sair uma toalha de mesa!
- Cala-te, mas foi daqui toda a luzir. "Méri Quem? Moças, em chegando ali a cima já não me lembro do nome. Ora, eu: nunca uso senão água, e fria. Com a estragação que me fizeram hoje na cara, o que é que a patroa vai dizer? Ai, e com a roupa toda por passar a ferro... Moças, isto quem é ovelha não serve para mato, moças."
Riem, riem a bom rir de se lembrarem da Cristina que dali se foi, muito satisfeita e galhofeira, sem se importar realmente com o que diria à dona da roupa, e só se lhe ensombrecendo o olhar se se lembrava que à noite, à noitinha, deixara de ter a quem mostrar aquela beleza.