terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"em 35 anos"


expect(a/o)re

você está na casa que pagarei em 35 anos.
faz-me acreditar que se pode guardar amor
no pote de açúcar.

tão claro é saber que não vais exigir
sobriedade das minhas faltas
na impensável data da confissão:

é natural nos constatar imãs e,
se puder chamar isto de amor,
vai dormir no capacho.

minhas certezas assistem à tv aberta
numa casa cheia de baratas.

e quando enfim encontrar tua boca
seremos mais uma dúvida no universo.

não bastamos - o corpo não cabe na mente
- o resto é esperarmos amanhecer.

pousares a cabeça em meu ombro
implica preparar uma herança.

sigo sem perceber essas linhas
em tuas olheiras cheias de enfins.

quando não pareceremos
lençois encardidos?

na saída dum truísmo
[ausência é o jumento desesperado
pelo saco de lixo no poste]
quero a pureza de poder te dizer algo
sem querer querendo.

o resto é esperarmos amanhecer.

(Sebastião Ribeiro, Macondo, # 6)