expect(a/o)re
você está na casa que pagarei em 35 anos.
faz-me acreditar que se pode guardar amor
no pote de açúcar.
tão claro é saber que não vais exigir
sobriedade das minhas faltas
na impensável data da confissão:
é natural nos constatar imãs e,
se puder chamar isto de amor,
vai dormir no capacho.
minhas certezas assistem à tv aberta
numa casa cheia de baratas.
e quando enfim encontrar tua boca
seremos mais uma dúvida no universo.
não bastamos - o corpo não cabe na mente
- o resto é esperarmos amanhecer.
pousares a cabeça em meu ombro
implica preparar uma herança.
sigo sem perceber essas linhas
em tuas olheiras cheias de enfins.
quando não pareceremos
lençois encardidos?
na saída dum truísmo
[ausência é o jumento desesperado
pelo saco de lixo no poste]
quero a pureza de poder te dizer algo
sem querer querendo.
o resto é esperarmos amanhecer.
(Sebastião Ribeiro, Macondo, # 6)