Ando em ti como um trilho no bosque,
contemplo o esplendor das tuas costas rochosas,
a união inseparável entre o escuro e a luz.
Nas nascentes pantanosas, cor de ferrugem
falas das tuas entranhas sem nada esconder,
espalhas o perfume embriagante do rosmaninho.
Nas florestas de pinheiros dourados
voam em bandos as aves ligeiras,
tilintam sem levarem sinos.
Os texugos e as raposas abrigam-se nas tocas
sob as pedras, contam
calmamente os passos dos caminhantes.
Nos teus vales, como nas dobras dos teus membros,
crescem fetos, crescem as manchas de abetos,
crescem fetos, crescem as manchas de abetos,
ali habita o pensamento sobre a morte,
a pegada do alce não se esvai do musgo.
Avanço sobre o paul, sobre as gastas rochas lisas.
Porque sou de todas as formas e idades,
calcado e calcorreado por antepassados e descendentes.
Amo-te para sempre, porque o trilho
não se perde do bosque sem se
destruir, ainda que permaneça o bosque.
Quase não precisas de mim. Uma árvore quase
não precisa do canto dos pássaros nos seus ramos, mas
louvo-te como uma melodia obstinada.
Em ti louvo a existência.
Transformaste a substância tempestuosa do universo
no sorriso permanente de uma tarde intemporal,
no palco solene da beleza humana,
como se fosses um bosque onde
me perderei.
(Tradução: Merja de Mattos-Parreira e Ana Isabel Soares, Fundação Casa de Mateus, Junho de 2001. De Pentti Holappa, Vuokralla täällä [Eis um locatário], 1983. A propósito do Estado do Bosque, outras palavras lindas, de um estranho crente neo-beckettiano.)