segunda-feira, 24 de junho de 2013

Fala do Reboliço a Nelson Mandela

Madiba, capaz de não me ouvires com os teus humanos ouvidos, mas ouve: aqui onde estou os homens morrem novos, morrem mal, morrem de vida mal vivida; morre-se muito e pouco se vive, do pouco mal que se morre e da vida que se arrasta sem se viver. Madiba, sempre ouvi contar da tua vida, da longa tua vida que dela se escapa e da lei da morte, da tua vida-vida, que iguala a daqueles de sombra imensa, os que fizeram escrever histórias como as de Ulisses, de Cristo, de Maomé. Olha, Madiba, com os teus humanos olhos vê: eu e a Luca, eu e o Sorna, a gente aqui é só mais nada do que ouvidos e olhos que aprendem lições - perdidas moléculas pequeninas, da mesma traça, do mesmo traço que em ti fez com que se encontrassem outras moléculas, outros átomos, e se engrandecessem. Madiba, tu que és humano como nós, pois que nos morres, sabe que, daqui onde estou eu, enquanto durar o átomo minusquinho que a mim aviva e tiver voz, contarei ao pequeno Matias, aos pequenos todos que de mim se abeirarem, quem tu és, quem foste, porque fizeste o que fizeste e como se pode chegar a querer ser um bocadinho como ensinaste que é bom ser.