terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O Reboliço é um nefelibata (88)

"Reflexo do Cisne: duas faces de um postal"
Segundo Caroline Wright


Cygnus (face da imagem)

Sou caligrafia. No estuário salgado, na lagoa da aldeia,
Escrevo o meu nome a arabescos. Falo em branco
À nuvem, falo às águas enevoadas.
Sou o mais longínquo quadrante
Da noite sem estrelas
E além dela.

Sou peito
E vento e lua
E a pura distância
Das constelações, a persistência
Do desejo, as nebulosas de sistemas que estão
Para desaparecer: grito e eco, curvatura e descanso.    



Verso (mensagem) 

Liga agora.
O telefone está sem som.
Não há discurso, não há linguagem
A habitar os espaços vagos, nenhum aferidor
Pode medir distância assim silenciosa e absoluta
Somos incapazes de lhe falar por palavras, não o sabemos fazer.

Ouve a rua. As vozes nas lojas, na fila do autocarro,
Na plataforma. Qualquer coisa vem de volta,
Um eco, arabesco, uma espécie de cortejo,
Como os ritmos de uma imaginada
Língua: signo, Cygnus,
Eu, tu.


George Szirtes, "The Swan's Reflection: two sides of a postcard"
(Tradução: AIS. Obrigada, F.)