LIÇÃO DE ASTRONOMIA
Os dois rapazes debruçam-se sobre a balaustrada
no alpendre, a olhar para o céu.
Atrás de si ouvem a mãe
numa das salas, que vê o Chuva de Estrelas
e na outra o pai, a assistir a
um Especial Walter Cronkite, os televisores
altos, com
mais e mais volume, até
deixarem de conseguir ouvir o programa um do outro.
O mais velho diz que sejam quantas
forem as estrelas que se conte haverá
sempre mais para além dessas
e além das estrelas espaço escuro
para sempre, em todas as direcções,
tanto que, mesmo se viajássemos
milhões e milhões de anos
não chegaríamos mais perto do fim
do espaço do que eles estavam agora
aqui no
alpendre, terça à noite
no meio do Verão.
O mais novo só pensa
no armário da mãe,
em como gosta de se aninhar lá ao fundo
atrás da cortina pesada
de camisolas, camisas de noite e vestidos,
na escuridão profunda onde,
por mais que aproxime a mão
do rosto,
não há nunca a mão, não
há nunca rosto que tocar.
Na outra rua, uma mulher
chama pelo gato ou pelo cão perdido,
bate palmas e assobia a chamá-lo,
mais
adiante, dentro da cidade,
uma e outra vez as sirenes
soam e deixam de se ouvir.
Os rapazes encostam-se mais um ao outro, ombro
a ombro agora, tristes Ptolemeus,
o mais
velho a olhar o céu, o mais novo
a pensar no que está à sua frente,
as folhas
negras do carvalho
onde cintilam
as luzes da rua,
como outra meada fluída de estrelas.
O Chuva de Estrelas e Walter Cronkite
combatem como águas revôltas
a quererem sobrepor-se uma à outra.
E a mulher
agora vai a andar
de camisa de noite pelo meio
da rua, a bater palmas e a
assobiar, enquanto o mais velho
discorre sobre anos-luz,
ventos solares e buracos negros
e sobre como o sol está a arrefecer
e o que acontecerá a todos
quando
ficar frio.
(Alan Shapiro, in Happy
Hour, The
University of Chicago Press, 1987.
Tradução: AIS. Daqui.)