terça-feira, 16 de junho de 2015

Moinhos na Poesia (69)

C. V.

A madrinha lia em voz alta, aos serões,
A Toutinegra do Moinho. Lágrimas furtivas
deslizavam nas faces das meninas.
No cache-pot pintado com lírios Arte-Nova
murchavam os lilases do quintal.
Quando nos anos sessenta emigrei,
descobri que afinal “La Fauvette du Moulin”,
de Emile Richebourg, cantava noutros prados
longe dos moinhos do Guadiana.

A infância refugiada nos cadernos,
a casa vendida, os lilases-da-Pérsia decepados 
fizeram prédios feiíssimos e caros no quintal
e as meninas da casa que restaram
estão agora nos retratos sempre lindas
e os moinhos para sempre submersos.
(O Reboliço agradece muito à Fernanda Dias, autora destes versos,
que lhos deu como se fossem "uma papoula ou um malmequer".)