SEMPRE AO SUL
E por sete palmeiras rente ao
mar
a porção de mim que é do azul
da noite.
Mais o sol, o girar tão
obsessivo
de varas que desenham uma
cruz,
com velas assoladas pelo vento
moendo na garganta o grão do
verso.
De saga tão antiga quanto o
mundo
– no secreto moinho do meu corpo:
por velas enredadas pelo vento
em varas redentoras de oura cruz.
Sob o céu, o rodar tão prisioneiro
das horas empurradas pelas horas,
a moer devagar um grão da terra
no cerrado deserto da planura.
Ao largo da palmeira frente ao
mar:
o veleiro – fantasma – sob a lua.
José António Almeida, Mar Vermelho na Vila Toda Branca, não (edições), 2022, p. 36.