terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Moinhos na poesia (90)

SEMPRE AO SUL

 

E por sete palmeiras rente ao mar

a porção de mim que é do azul da noite. 

Mais o sol, o girar tão obsessivo

de varas que desenham uma cruz, 

 

com velas assoladas pelo vento

moendo na garganta o grão do verso.

De saga tão antiga quanto o mundo

– no secreto moinho do meu corpo:

 

por velas enredadas pelo vento

em varas redentoras de oura cruz.

Sob o céu, o rodar tão prisioneiro

das horas empurradas pelas horas,

 

a moer devagar um grão da terra

no cerrado deserto da planura.

Ao largo da palmeira frente ao mar:

o veleiro – fantasma – sob a lua.


José António Almeida, Mar Vermelho na Vila Toda Branca, não (edições), 2022, p. 36.