....Ontem segui da caldeira para o vulcão dos Capelinhos. Na verdade, saí da caldeira e fui até à praia da Fajã. Aí, apanhei três seixos. Levei uma toalha que encontrei na bagageira do Twingo, mais a faca de cabo que lá estava (não sei porquê, mas peguei nela quando agarrei na toalha). E sentei‑me nas pedras da praia, que não tinha areia, a comer e a olhar para as ondas que sovavam as rochas e deixavam piscininhas de brincar. Gostei de estar ali e foi dali, depois, que segui para o vulcão. Tenho reparado que há por toda a ilha muitas casas à venda.
....Quando parei o carro frente ao vulcão, estava lá outro, um Fiesta branco dos novos. Contrastava com o chão negro, a areia castanho‑escura e preta, o farol enegrecido e o castanho‑vermelho‑escuro da encosta do vulcão. Sentia-me ensonada e, mesmo com as pernas ao sol forte das 3 da tarde, deitei‑me no banco de trás e dormitei. Quem quer que tenha trazido o Fiesta entrou nele e abalou (abriram‑se e fecharam‑se duas portas, portanto eram no mínimo duas pessoas) e fiquei sozinha naquele outro sítio desabitado. Quando saí do carro fazia um vento forte que afastava depressa as nuvens e nunca deixava o cenário escurecer por completo. Pensei em levar dali uns bocados de lava solidificada, embora já tivesse no saco as pedras que trouxera da praia da Fajã (enquanto escrevo, a ventania atira para o caderno grãos de areia estranha, preta, cinzenta e prateada. Só o toque, fino, se assemelha ao da areia branca das praias que conheço). Tentei descer até à praia, mas escorregava sempre e tive medo de cair em cima das pedras pontiagudas que a lava deixou.
....Regressei pelas traseiras do farol, também em ruínas: percebi dali que caminhava ao nível do segundo piso do edifício, e que a lava e a areia tinham enterrado todo o resto até à base, deixando ver apenas a cantaria superior das janelas que julgo serem as térreas. Achei medonho imaginar o momento daquela invasão (1957?) e dei por mim a pensar na impotência e na ausência de vontade que fizeram com que se deixassem assim, tal como ficaram, aquelas paredes mortas, iguais ao dia em que perderam a vida (o caderno, a roupa, a mala, o corpo, tenho tudo sarapintado de pontinhos pretos – a areia daqui quer marcar presença visível).
....Quando me afastei do vulcão, segui pela estrada e fui ver o Varadouro. Queria conhecer a praia e as termas. Destas, tudo encerrado e em silêncio. Da praia, uma pequena enseada bonita, também deserta e silenciosa (à minha frente, o Pico torna‑se verde a meio, é o sol a descobrir‑se‑lhe antes de as nuvens lhe encerrarem o topo; para a esquerda, desenha‑se muito nítido o recorte de São Jorge, mas de negro mais esbatido pela distância, por alguma névoa e pelo semicerrado ventoso dos meus olhos), vejo uma rampa de largada de barcos e é por aí que me aproximo da água.
....Quando parei o carro frente ao vulcão, estava lá outro, um Fiesta branco dos novos. Contrastava com o chão negro, a areia castanho‑escura e preta, o farol enegrecido e o castanho‑vermelho‑escuro da encosta do vulcão. Sentia-me ensonada e, mesmo com as pernas ao sol forte das 3 da tarde, deitei‑me no banco de trás e dormitei. Quem quer que tenha trazido o Fiesta entrou nele e abalou (abriram‑se e fecharam‑se duas portas, portanto eram no mínimo duas pessoas) e fiquei sozinha naquele outro sítio desabitado. Quando saí do carro fazia um vento forte que afastava depressa as nuvens e nunca deixava o cenário escurecer por completo. Pensei em levar dali uns bocados de lava solidificada, embora já tivesse no saco as pedras que trouxera da praia da Fajã (enquanto escrevo, a ventania atira para o caderno grãos de areia estranha, preta, cinzenta e prateada. Só o toque, fino, se assemelha ao da areia branca das praias que conheço). Tentei descer até à praia, mas escorregava sempre e tive medo de cair em cima das pedras pontiagudas que a lava deixou.
....Regressei pelas traseiras do farol, também em ruínas: percebi dali que caminhava ao nível do segundo piso do edifício, e que a lava e a areia tinham enterrado todo o resto até à base, deixando ver apenas a cantaria superior das janelas que julgo serem as térreas. Achei medonho imaginar o momento daquela invasão (1957?) e dei por mim a pensar na impotência e na ausência de vontade que fizeram com que se deixassem assim, tal como ficaram, aquelas paredes mortas, iguais ao dia em que perderam a vida (o caderno, a roupa, a mala, o corpo, tenho tudo sarapintado de pontinhos pretos – a areia daqui quer marcar presença visível).
....Quando me afastei do vulcão, segui pela estrada e fui ver o Varadouro. Queria conhecer a praia e as termas. Destas, tudo encerrado e em silêncio. Da praia, uma pequena enseada bonita, também deserta e silenciosa (à minha frente, o Pico torna‑se verde a meio, é o sol a descobrir‑se‑lhe antes de as nuvens lhe encerrarem o topo; para a esquerda, desenha‑se muito nítido o recorte de São Jorge, mas de negro mais esbatido pela distância, por alguma névoa e pelo semicerrado ventoso dos meus olhos), vejo uma rampa de largada de barcos e é por aí que me aproximo da água.