....Dentro do carro que aluguei na Madalena, paro a meio caminho entre o mar e a montanha do Pico. Faz uma tremenda ventania de sul. Estou mesmo por detrás da nuvem que tapa a montanha quando se avista da Horta – por isso aqui vejo tudo, limpo até ao cume. A estradinha por onde sigo, velha e estreita, tem um ar inconfundível de estrada de ilha e faz‑me lembrar os cenários de uma série que passava na televisão, Veterinário de Província. Não sei se a acção se passava numa ilha, mas a sensação e o tipo de imagens associaram‑se na minha memória. Dos dois lados há arbustos altos de hortênsias (neste quase outono, as flores são imperceptíveis) e muros de pedra negra. As vacas no caminho e as carrinhas de caixa aberta estacionadas de repente numa berma súbita, ou a passar com velocidade, ajudam a associação com a série. Ouvem‑se alguns pássaros, ou é um só, e o vento. Não ouço insectos. Daqui, a montanha nem parece muito alta, mas acredito que seja uma ilusão.