Quando chegaram a cidade, comecava o sol a baixar. As sombras das arvores e das casas ficavam compridas nos passeios e nos jardins das traseiras. Dai a nada, apareceria a lua e so lhe faltaria uma fatiazinha do lado esquerdo.
A residencial nao era nada do que estavam a espera e uma delas quis procurar um hotel para aquela noite. D. levou-a ate ao unico hotel da cidade e ficou no carro, enquanto ela regateava o quarto com a recepcionista. Deixou ligados o motor e as luzes - a sua frente via um outro automovel comprido, azul escuro. Ao fim de uns dez minutos, resolveu parar o motor e desligar as luzes. Foi pouco antes de o fazer que o homem saiu do carro da frente, que pensara que estivesse vazio, e comecou a olhar com ar interrogativo para o Chevrolet Impala cor de bronze. Quando o homem se aproximou, trancou as portas por dentro. Depois de ele dar umas passadas largas ate a traseira do carro, D. viu pelo retrovisor que o homem tirava do bolso da camisa duas esferograficas. Reparou nos suspensorios caidos, uma tira fina pendente de cada lado do tronco e, agora, num certo bambolear dos seus passos. O homem acenava para a placa da matricula, com as duas canetas na mao. Aproximou-se da janela do condutor. D. abriu uma fresta pequena, so o suficiente para nao lhe entregar o receio que, aquelas horas da noite, deveria sentir. Foi quando o homem, que entretanto baixara o tronco ate si, lhe estendeu a mao esquerda e, respondendo a um aceno de cabeca, lhe gritou com voz, apesar de tudo, simpatica, "WOULD YOU CARE FOR A PEN?"