quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Céu branco, da cor das amendoeiras

Este ano, as amendoeiras não se manifestam em bloco: esparsamente, florescem à bruta ou ruborescem entre outras de ramos vazios. O Reboliço deita-se por cima da terra já não gretada, cor escura de tijolo, e olha para cima. Vê os tronquinhos finos a terminarem em botões quase pontiagudos, verdes no começo e brancos ou rosas no extremo. Vira o focinho para o lado e alcança outra árvore, espampanante, com folhas verdes a substituirem já algumas pétalas. De vez em quando, em repentes de doidice, foge-lhe ao lado a flecha negra da Luca. Inspira fundo, pensa que a juventude é mesmo assim, desesperada e tola, descansa o focinho sobre o cheiro da terra e, enquanto suspira, fecha os olhos pequeninos. Para a semana - para a semana estarão todas da mesma cor. Recordará alguém o que sentiu a moura* quando olhou para a terra florida de branco?

*Afterthought: Seria uma princesa nórdica, segundo a lenda. Já nem o Reboliço tem a memória segura...