sábado, 27 de maio de 2006

"Il faut aimer les contradictions"

É preciso amar as contradições, grita o homem de voz boa no meio do palco - e o meu pensamento não pára no "amar", nem em "contradições", mas no "é preciso". A voz do homem fala de uma urgência qualquer que identifico logo. Os Pop Dell'Arte têm só vinte anos, mas esta necessidade que cantam é mais antiga. Vem, pelo menos, do meio do século passado e quer mostrar como se pode viver num mundo em que tudo está demasiado estranho, demasiado de cabeça para baixo. Esta urgência leva-me para lá do obstáculo que seriam as contradições e dá-me largueza de passo para as olhar com benevolência. É o acordo entre o ruído brutal da bateria, do baixo e da guitarra e aquela melodia, breve e quase surda, tocada numa flauta.

(O amor passa os dias frente ao espelho
Acredita num reencontro
Eu adormeço o rosto no seu peito nú
E sonho acordar noutro lugar
versos de "O Amor é um Gajo Estranho", Pop Dell'Arte
O concerto repete esta noite, no CAPa)