sábado, 28 de outubro de 2006

Rui Tavares e "o problema político"

São desusadas nas Cartas as opiniões sobre política. Terei feito, quando muito, alusões anedóticas a episódios políticos, ou então ajudado a divulgar notícias que me movem enquanto cidadã. Ainda assim, sou votante praticante, esforço-me por manter a consciência cívica à tona do caos e sou profundamente céptica quanto às “medidas políticas” (locais, nacionais e mais alargadas do que estas), se bem que, acima de tudo, ao modo como geralmente são veiculadas nos meios de comunicação. Uma das razões por que não me agrada deixar aqui opiniões políticas tem a ver tão só com o que me invalida a sua formulação – não me senti nunca capaz de verbalizar de maneira articulada, coerente e clara (como gosto e entendo conseguir fazer sobre outros assuntos) ideias acerca da conduta de governos e governantes. Parece-me sempre que fica alguma coisa por considerar, e que essa coisa é que daria a solução ao que me aflige como problema político e governativo. Adiante. Tive a sorte, aqui há uns anos larguíssimos (no século passado, ou como dizia um professor meu, “antes do tempo da Guerra”, e, se tal sempre foi verdade, mais o é agora, quando há guerras para todos os tempos), de partilhar o palco de uma aula com o historiador Rui Tavares, na Universidade de Nova Iorque. Como tenho este hábito pequenino e saloio de me interessar mais pelos percursos de quem vou conhecendo e me agrada do que dos que, por assim dizer, não me foram nunca nada, é raro perder o que escreve, nos blogues ou na crónica do Público. (Já se começa a perceber porque não escrevo sobre política: quantas linhas já vão sem ir directa ao assunto?...) Este sábado, sob o título relativamente inócuo de “O fim do mês como problema político”, Rui Tavares faz no Público uma argumentação certeira sobre o “problema político” geral (ressalva, e sublinharia eu, que "[n]ão é só nosso: toda a Europa e muitos países por esse mundo fora sofrem do mesmo”). Último parágrafo, sumaríssimo, limpinho: “No nosso caso, trata-se de um país com dez milhões de habitantes se tornar uma república com dez milhões de cidadãos.” Não sei falar disto melhor: “É o problema-base da democracia, apenas isso; não deveria ser tão difícil” de resolver. Digam-me cá do génio da simplicidade...