terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Neurónios, cérebros e patinhas

    Volta não volta, dou por mim a encantar-me com escritos sobre fenómenos humanos daqueles sobre os quais se diz que se sabe muito pouco. Coisas de hemisférios cerebrais, comandos neuronais dos movimentos mecânicos do corpo, electricidades, magnetismos e fenómenos pataestapafúrdifísicos. É um encanto de ignorante, assumidíssimo. Mas tem-me levado por muito boa literatura - António Damásio e Oliver Sacks, por exemplo. Hoje lembrei-me disto a propósito de um daqueles testes que circulam pelo correio electrónico. Além de o teste ser engraçado, delirei com a maneira como se apresenta.
    Título: "Será que o seu pé direito é inteligente?" (Vem-me logo à ideia um livrinho que tinha em pequena, livro pequenino também, chamado O Sapato do Coração, do Pedro Alvim, com uns desenhos grandes e coloridos. Ou o filme do Jim Sheridan.) Continua a mensagem, a prometer que "o que se segue é tão engraçado que desafia qualquer compreensão lógica." Nem por isso, penso, já que a lógica é que os movimentos do corpo são, sim senhor, dominados por mensagens cerebrais muitíssimo bem engendradas e que não se desafiam por dá cá aquela palha. O desafio, propriamente dito: "Aposto que irá tentar pelo menos cinquenta vezes para ver se consegue contrariar o seu pé. Mas sem sucesso!!! Experimente…" Pois bem... Esquecemo-nos muitas vezes que quem tenta contrariar é a mesma entidade a que pertence o pé que se quer contrariar, ou seja, contrariar o dito equivaleria a contrariar a vontade de contrariar. Ughhhh, que confusão! As ordens são claras: "1. Sentado numa cadeira, levante o seu pé direito do chão. Uma vez o pé no ar, faça círculos com o mesmo, no sentido dos ponteiros do relógio; 2. Ao mesmo tempo, desenhe com a sua mão direita o número 6 no ar [acrescento meu: o 6 tem de ser feito de cima para baixo, i.e., com a mão a movimentar-se no sentido contrário ao dos ponteiros... get it?]."
    A Tiaga e o Reboliço passam a vida a tentar mostrar-me que existem vontades a que a nossa arrogância de racionalidade tem de ser alheia. Nunca mo disseram por e-mail, mas devem ter porta-vozes algures. Só pode ter sido um deles a enviar-me a mensagem!