"Moinho de Vento"
Luz,
luz espumejante
sobre a planície, íngreme,
montanha de brilho, fundo
marulhar,
voam tempestades,
respirando relâmpagos, a terrível parede
ergue-se até ao céu.
Desci
pela duna
vindo do mar,
pela terra de aluvião nua de árvores,
sem sombra, sem sonho, fui
com os ceifeiros, o moinho erguia-se
hirto e velho. Agora, as velas
cinzentas agarram os ares.
Silencioso, sobe e domina a terra.
Com as garças levanta
voo, grande no fundo dos céus
brancos. Bravio, da distância
responde-lhe o brilho do olhar
do inverno.
Coração, pássaro dos gelos,
com espinhas e barbatanas
faz o teu ninho na caverna,
no sangue sussurrante.
Fica com as gentes da planície, filhas e
filhos, com as pequenas sombras
de canções e danças, fica e
ergue uma erva de Novembro
contra a neve.
(Johannes Bobrowski, Como um Respirar, Antologia Poética, Sel., trad., intr. e notas de João Barrento, 1990, Lisboa, Cotovia, pp. 24-27. Obrigada, meu primo!)