sexta-feira, 6 de abril de 2007

Seguir a lua

Seguia no banco de trás do carro, como tantas vezes – as mais delas – nas viagens pela planície. Em pequena, quando viajava com os irmãos no banco de trás, as duas viagens eram muito distintas: para Norte, saíam de casa num fim de tarde qualquer e iam rabiando o caminho todo. A maneira de sossegarem era a mãe pô-los a cantar: “Quero ir para o Altinho, que eu daqui não vejo bem / Quero ver o meu amor, se ele adora mais alguém...”. À vinda, de noite cerrada, sossegavam. Aninhada entre os irmãos, depois de dormitar uns minutos, mexia o corpo de maneira a fitar uma das janelas e, por ela, a lua. Ia seguindo o redondo, mais ou menos fechado, nas poucas curvas que o Renault12 fazia. Via a lua ora num lugar ora noutro – às vezes tinha que esticar o pescoço para a enquadrar de novo na janela e arriscava desadormecer de um todo.