quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Opinião de Ofélia Queirós sobre Fernando Pessoa

O Fernando era um pouco confuso, principalmente quando se apresentava como Álvaro de Campos. Dizia-me então: «Hoje não fui eu que vim, foi o meu amigo Álvaro de Campos...» Portava-se, nestas alturas, de uma maneira totalmente diferente. Destrambelhado, dizendo coisas sem nexo. Um dia, quando chegou ao pé de mim, disse-me: «Trago uma incumbência, minha senhora, é a de deitar a fisionomia abjecta desse Fernando Pessoa, de cabeça para baixo, num balde cheio de água.» E eu respondia-lhe: «Detesto esse Álvaro de Campos. Só gosto de Fernando Pessoa.» «Não sei porquê», respondeu-me, «olha que ele gosta muito de ti.»
Raramente falava no Caeiro, no Reis ou no Soares.
(Daqui.)