sexta-feira, 9 de maio de 2008

- Luca, Petaner!, venham cá depressa! - ladra o Sorna do fundo do seu quintal. Os outros dois aparecem esbaforidos do canto da alfarrobeira:
- O que foi? O que é, Sorna?
- São os donos. Estão de volta e trazem um cesto pequenino. Vão lá vocês ver o que traz dentro, vão já e digam-me.
- Está bem, espera aí. E pára de ladrar, ainda te engasgas!
(...)
- Já vimos!, já vimos!!! - O Petaner repete com latidos roucos. - Já vimos!!!
- E o que é, então?
- É o dono novo, meio metro de gente, encolhido no cesto. Dizem os donos velhos que agora estamos proibidos de entrar na casa.
- Grande novidade: a mim nunca me lá deixaram ir.
- Ah, mas agora é por conta do doninho novo. Eu nem me aborreço. Assento o rabo no xisto do lado de cá do vidro e passo o dia a vê-los, para cá e para lá, aquece biberão, tira fralda, engana a insónia, olha para o relógio.
- Estou mesmo a ver-te, Luca. Tu? Sossegada mais do que um minuto a olhar pela janela?...
O Reboliço ouve-lhes as conversas e vai ele, muito discreto, pôr-se de guarda à porta. Encosta-se bem à ombreira: não quer apanhar as gotas poucas de chuva que agora começaram a cair.