O Reboliço ia fechar a persiana quando deu por ela. Da janela para a rua não se via quase nada àquela hora da noite escura, um pouco enevoada e sem lua, tirando as luzinhas da ponte, lá ao longe, o candeeiro da rua mesmo por baixo junto às garagens e, agora, a cadeira. Durante a tarde tinham andado uns homens a consertar a lâmpada, ou a colocar os caixilhos na janela do prédio em frente; chegou a pensar se não seriam bombeiros que fossem salvar um gato tolaço e amedrontado com as vertigens. À vista daquela cadeira no cimo da grua, vazia, o Reboliço pergunta-se agora o que será do gato, da caixilharia ou da lâmpada. Imóvel, observa a cadeira: está sozinha, sem sequer o cuidadoso abandono de lhe terem apagado a luz à saída.