- Hum?... - faz o bicho, a despertar do torpor ensofado.
- A Charlotte quer saber se te lembras das séries "que deram consistência à tua vida."
- Séries que deram o quê? - pergunta o Reboliço, a abanar o lombo e a fazer soar a esquilinha no cachaço estendido.
- Consistência, Reboliço. Armadura. Solidez.
- Deve ter sido a Fame: faziam ginástica que se fartavam, e aquilo enrija a carne.
- Não, pá, não é isso. Rai's parta!
- Heh... Espaço 1999? Aprendi que alguém se pode transformar num cão, por exemplo. Nos espectáculos dos Marretas havia de tudo o que era bicho e aprendi com eles que uma pessoa pode fazer a diferença e chamar muitas outras. Sobre animais aprendi também, no Verão Azul, como se reproduzem os peixes e que se pode resistir, quando se tem razão. Do conhecimento do animal humano fui tomando consistência com os Ropers, lembras-te? Os Bunker, que vi já depois do seu tempo (assim como a família dividida entre o campo e a cidade, da Green Acres), também me formaram o carácter e ensinaram muito do reino animal. E, se queres saber, com um bicho em cena aprende-se quem são os verdadeiros amigos. Animais ou a família - o que é que a gente faria sem eles?
- E personagens de séries? Aprendeste com algumas?
- Com nenhuma aprendi tanto como com o MacGyver. Nada que se possa usar, mas enfim... De resto, só com os melhores detectives: a equipa toda da esquadra de Hill Street, o cool do Inspector Columbo, que é amigo, e a classe e o génio de Hercule Poirot, mesmo em tempos de gripe.
- Só coisas velhas, Reboliço.
- Mais ou menos. - O bicho estica-se todo, dá meia volta mais a volta do costume, e mesmo antes de ferrar o galho outra vez, diz as duas palavras mágicas:
- Denny Crane.
(Pronto, já adormeceu. Agora eu que me amanhe a escolher cinco serial-victims para me contarem das suas escolas em séries. Um, dois - esta não me liga a mínima-, três, quatro e cinco. Já está.)