domingo, 2 de agosto de 2009

Aprender

"[...] só na escola primária estive completamente exposto à pedagogia oficial. Mas penso no entanto que as desvantagens da pedagogia da época foram enormemente compensadas pela personalidade do meu professor, o senhor Rovisco de Andrade, o qual seria hoje considerado um homem de uma cultura invulgar. A ele fiquei a dever dois dos étonnements ravis de mon enfance: o tom grave, de uma deliciosa melancolia, com o qual ele lia os textos do P. António Vieira, de Camilo ou de Eça, na pequena Selecta que se usava então no ensino da língua e, em geometria, a experiência fascinante das fórmulas das áreas do plano, da perplexidade perante a fórmula que permitia determinar a área de qualquer círculo: uma das letras era uma constante (π), mas a qual tem um valor não integralmente especificável..."


(M. S. Lourenço [1936-2009], Entrevista a Miguel Tamen, in A Teoria do Programa: Uma homenagem a Maria de Lourdes Ferraz e a M.S. Lourenço, org. António M. Feijó e Miguel Tamen, Programa em Teoria da Literatura/Universidade de Lisboa, Lisboa, 2007.)
Adenda, em 5 de Agosto: No Drama Pessoal mostra-se um excerto do magnífico ensaio de Lourenço, "À Sombra das Acácias em Flor".

Adenda 2, em 2 de Setembro: Há mais um excerto de um dos ensaios d'Os Degraus do Parnaso, e um alerta sobre a edição, no blogue de Teresa Sá Couto.