quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

- Não, Reboliço, não senti nada.
- Mas não é suposto uivarem, ganirem, chorarem, ladainharem, esgravatarem a terra, arrepelarem o pêlo?
- É capaz, mas é como te digo. A noite toda a única coisa estranha foi que me pareceu ouvir o pequeno Matias a chorar, mas diz que era dos dentes. Voltei-me para o outro lado da parede e retomei o sonho que estava a ter: aparecia um osso de presunto Pata Negra e começava a perseguir-me e eu a querer dar-lhe uma dentada mas a pensar que se calhar era demasiado salgado, isto tudo enquanto tentava escapar a que ele me agarrasse. Mas desde quando é que eu fujo a um osso de presunto, Reboliço?!
- E o Sorna, sentiu o sismo?
- Eu cá acho que não. -, disse a Luca a encolher os ombros e a falar baixinho. - Não tugiu nem mugiu nem guinchou.
- Tenho uma teoria! -, ladrou o Petaner. Desde que andara lá por fora, vinha muito sabido. - Como o sismo foi dentro de água, só os peixes é que o devem ter anunciado. É que nem os pássaros: nem deram o alarme nem se alarmaram.
O Sorna, lá de longe, arrebitou as orelhas, deu um latido forte que assustou o Petaner e o fez largar a fugir para a estrada, e voltou a encostar a cabeça nas patorras, de olhos fechados outra vez. O Reboliço ficou sentado a olhar para o sol que se punha e a pensar que para a próxima vez quer ir tocar com a pata da frente o lugar onde a terra começa a tremer.