sábado, 21 de agosto de 2010

Montes Velhos (3)

Quem mandou fazer este moinho foi um tal Zé Maria Padeiro, de Beja, que quis comprar ali o moinho do meio. O dono do moinho não o quis vender, e então ele disse que havia de construir um moinho ao contrário dos outros (ao contrário, porque as mós em vez de estarem no piso de cima estão no piso intermédio). O trisavô Francisco Gertrudes veio à inspecção e viu este moinho a ser construído e depois mais tarde comprou-o (já não sei se foi ao Zé Maria Padeiro); antes de comprar este, tinha comprado ali o Moinho da Forca, ao pé da cidade – depois de vender esse é que comprou este. Já era moleiro. Comprava trigo para os moinhos, por conta da família Galvão, de Beringel, que tinha uns poucos moinhos: de vento e de água, no Guadiana. Uma moagem em Beringel era destes Galvões. Segundo dizia o avô Chico, o Francisco Gertrudes fornecia a farinha para a família Galvão. Morou em Beja, nas Portas de Moura; tinham lá um depósito de farinha (por isso é que chamavam à Francisca Ramos a tia Chica da Farinha). Quando veio de Beringel para Beja já vinha comprometido com a Francisca Ramos, avó do Manuel Ferro (o trisavó da Glória). Possivelmente, depois de ter feito a inspecção, ficou por aqui, porque começou a comprar o trigo para os Galvões de Beringel.

O pai da avó Custódia era de Ferreira do Alentejo. A mãe dela morreu quando a avó tinha 5 ou 6 anos, no ano da pneumónica (1914 ou 1915), e morreu na mesma altura uma tia dela (foram as duas no mesmo caixão). O pai da avó Custódia, Manuel Dias, casou depois com a Josefa da Encarnação, que acabou de lhe criar os seis filhos (quatro homens: Joaquim, António, José e Marcolino; e duas mulheres, Francisca – nascida depois do Joaquim – e Maria Custódia, a mais nova). Só muito tarde (já o tio Luís tinha uns 17 anos) é que os netos souberam que a avó Zefa não era avó de verdade deles.

(Relato do tio Luís Soares em 2010, sentado à mesa em frente da porta da cozinha, que já foi janela e antes disso era parede nua da cavalariça. A mesa foi feita pelo avô Chico, que encheu de cimento o calço da roda de um carro de bestas e assentou o disco sobre uma estrutura de madeira. Tem uma data gravada no tampo: 10 de Maio de 1964.)