quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A avenida no feriado

O Reboliço assoma-se à janela, a medo, por conta dos relâmpagos. Ver, vê muito pouco: mas o céu cinza-azulado, baixo como o tecto de uma cave, faz ressoar os barulhos à sua volta. Ouve a água no asfalto a saltar para um lado e para o outro dos pneus, quando passa um carro; ouve três ou quatro moços pequenos a jogar à bola nos intervalos das bátegas, aflitos por aproveitar cada minuto; ouve a missa na televisão da vizinha, a Dona Mimi que entoa os cânticos por cima do som da caixa e comove a desafinar. São sons muito limpos, muito claros, que os faz assim a água a brilhar no asfalto como o húmido no focinho de um cão e o baixo que o céu está.