sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"os seus... segundos"

"anteontem dormimos (uma só noite) em casa dos __. ao acordar não sabia onde estava. foi um belo risveglio. e então pus-me a pensar que é mesmo bom quando acontece não se saber onde se está, no espaço, nem no tempo... não saber se se está em L. ou no moinho, se os pés estão para a cabeceira..., ainda nada está formatado na cabeça... aliás, nem se percebe muito bem em que corpo se está, é mesmo uma surpresa descobrir que há um corpo onde estar-se.
é só a presença.
isto é coisa para durar os seus nove, dez segundos... aquele tempo do prazer de sentir que as esferas dos olhos se transformam e passam de pensamento a coisa física. estão mergulhados dentro na cabeça, e depois saem para a cara, ao mesmo tempo que se abrem, como se nada tivesse acontecido. mesmo a tempo.
havia este arquitecto russo - melnikov - que tinha imaginado um dormitório para operários pensando o dormir como um morrer todos os dias, para se ressuscitar todas as manhãs. todos os dias nasço. é a passagem que é magnífica."
(O Reboliço lia isto enquanto ouvia a voz de Tom Waits lamentar um Eduardo e embalar uma Alice. O cantar do Tom Waits é assim também de não saber bem onde anda, de só querer andar, a madness with bliss.)