domingo, 6 de fevereiro de 2011

Biutiful

Uma das coisas de que mais gostei em Biutiful foi ver personagens a ganhar alma. Bea, Ige (Ige!), Ana, Liwei, Uxbal, Li: são nomes de gente. Não são nomes de gente de verdade, que o filme não é um documentário*; são nomes de entidades inteiras, personagens cheias, insufladas por actores impressionantemente dirigidos, enquadrados, fotografados, integrados na narrativa. Disso, de ver que o mesmo mar de tela é diferente consoante o olhar que o capta seja de um Oliveira (no Enigma de Colombo) ou de um Iñárritu (com o peixe de Gehry ao fundo), e de ver nele, no filme, o Ordet recontado aos contemporâneos. Já se sabe que uno ve en las películas lo que uno quiere ver en las películas.

*Ainda que possa ser confundido com documentários, por tratar de chapa aquilo que entra pelos olhos de quem hoje passa numa qualquer metrópole europeia, ou por adoptar maneirismos de câmara típicos de alguns documentários - mas o ponto não é esse, e por não ser esse o ponto não é um documentário.