terça-feira, 10 de maio de 2011

Moinhos na poesia (35)

O Criador chama o moleiro à sua presença:
- Moleiro anda p’ró Céu!
- Senhor não tenho vagar:
Tenho o fole na moenga
Que está por maquiar.
O Criador:
- Então como fazes a maquia?
- Vem a mulher, tira o que quer,
Vem a Maria, tira a maquia,
Vem o patrão, tira o maquião,
Vem o criado, tira mais um bocado,
E ainda há-de dar p’ro vinho e p’ro tabaco
E p’ra ração do burro qu’anda fraco.
Este saco deita-se p’ra’quele canto
E se o dono demorar,
Tira-se outro tanto,
E não fora contas a Deus ter que dar,
Nem o fole vazio ao freguês ia parar.
Defunto o moleiro, bate às portas do Céu:
- Abre a porta ó S. Pedro!
Abre a porta, deixa-me entrar.
Diz-lhe o Santo: - Tu não entras
Sem o padre te confessar.
Por isso aqui fica à espera
Enquanto um vou procurar.
Volta o Santo afogueado,
Dizendo preocupado,
- Procurei bem procurado,
Em todo o céu, mais algum
Moleiros, ‘inda vi um,
Padres..., é que não vi nenhum!
(Romance de cordel, achado aqui depois de ouvido, em cantiga, da boca do moleiro no filme O Barão.)