terça-feira, 3 de maio de 2011

Numa rua de escadas de Lisboa

O Reboliço sobe a rua de escadas, de fôlego recobrado a cada degrau, devagar para não perder o dito. O dia tem um véu de névoa invisível: a chuvada em ameaça suspensa dá aos sons a redondeza que os faz claros, audíveis sem barreira nenhuma. Passa debaixo de uma janela aberta - o véu encerra a cidade, sufoca-a, tira-lhe o ar -, ouve uma voz jovem, de mulher aflita. "Olha, pá, tu se tirares um curso superior vais fazer é o que quiseres, pá. Mas se não tirares, ó pá, fazes o que houver p'ra fazer, 'tás a ver?"
Escapa-te, Reboliço, mora ali um bicho papão.