Feridas abertas, portas fechadas:
Cidade antiga - minha cidade.
Que queres que diga,
Se já é tarde...
Neste degredo triste e sombrio,
O teu segredo - quem o ouviu?
Dizes que é cedo, mas tenho medo -
E sinto frio.
Rua das Trinas, ao longe o rio.
Escadas e esquinas - um assobio.
Velhas meninas com tristes sinas num bar vazio.
Lixo no cais - o casario.
Coisas banais, um cão vadio:
Desço a calçada, não penso em nada -
E sinto frio.
Jornais, revistas, truques e manhas.
Vagos turistas:
Chuva e castanhas,
Ouve-se um canto triste e cansado.
Parece um pranto: dizem que é fado
Rua do Ouro, chego ao Rossio.
Não sei se choro, não sei se rio.
Subo a avenida -
Estou tão perdida, está tanto frio!
Cidade antiga - dizes que é cedo...
Que queres que diga, se não te entendo?
Mas vou ouvindo e repetindo,
Mesmo não querendo,
Até que, cedo, minha cidade,
Sem frio nem medo, que Deus te guarde
Com teu segredo.
Contigo aprendo que nunca é tarde.
(Manuela de Freitas na voz de Cristina Branco e na guitarra de Fernando Alvim.)