segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"Cedo"

Ruas desertas - águas paradas.
Feridas abertas, portas fechadas:

Cidade antiga - minha cidade.
Que queres que diga,
Se já é tarde...

Neste degredo triste e sombrio,
O teu segredo - quem o ouviu?

Dizes que é cedo, mas tenho medo -
E sinto frio.

Rua das Trinas, ao longe o rio.
Escadas e esquinas - um assobio.

Velhas meninas com tristes sinas num bar vazio.

Lixo no cais - o casario.
Coisas banais, um cão vadio:

Desço a calçada, não penso em nada -
E sinto frio.

Jornais, revistas, truques e manhas.
Vagos turistas:
Chuva e castanhas,

Ouve-se um canto triste e cansado.
Parece um pranto: dizem que é fado

Rua do Ouro, chego ao Rossio.
Não sei se choro, não sei se rio.

Subo a avenida -
Estou tão perdida, está tanto frio!

Cidade antiga - dizes que é cedo...
Que queres que diga, se não te entendo?

Mas vou ouvindo e repetindo,
Mesmo não querendo,

Até que, cedo, minha cidade,
Sem frio nem medo, que Deus te guarde
Com teu segredo.

Contigo aprendo que nunca é tarde.