domingo, 27 de novembro de 2011

A Sara, o Sali

António mudou de sexo. Foi pelos 30 anos, fez a operação em França. É a Sara, que o Reboliço sempre conheceu como Sara e via todos os Agostos, nas férias dela na aldeia. Sentava-se num dos bancos do larguinho, de conversa com as outras mulheres, enquanto as crianças corriam e jogavam jogos até o sono as vencer, que o calor não desarmava.
O Sali veio da Malásia nos anos 60 do século passado - órfão de guerra, foi adoptado por uma senhora inglesa, uma Andresen que morou na aldeia até morrer e nunca aprendeu uma palavra de português. Quando veio viver para Portugal, o Sali era já mestre em massagens e mezinhas orientais. Foi massagista do clube e era o calista que toda a gente procurava. Desengomava-se no português com um sotaque engraçado. Morreu quase com setenta anos; teve um funeral concorrido e a sua campa lá está, limpa e tratada como todas as outras do cemitério da aldeia.