"Chove muito, aqui?", pergunta o casal de turistas já a embarcar no barco que atravessa o Tejo. O Reboliço encolhe um bocadinho os ombros, faz um sorriso, diz que é quase Inverno. "Ah, aqui também?", volta o homem, de rosto aberto pela coincidência. "Na Córsega, de onde vimos, o Inverno está a chegar."
O Reboliço reage, por segundos, com um duh!..., calado mas a despropósito. O mundo é muito maior do que se pensa e as idades que se vive em cada lugar alargam-no e estreitam-no. Por mais atlas que tenha consultado, por mais jornais que tenha lido ou programas de televisão que tenha visto, para aquele homem estar ali talvez representasse, no espanto maior, a possibilidade de afirmar que de onde viera era um lugar diferente, de tão longe. Tão diferente e tão distante que fazia admirável que aquela estação do ano lhe fosse simultânea noutras paragens do mesmo hemisfério.