quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

PRESÉPIO TRADICIONAL DA NAZARÉ

Porque o amanhã já começou.
Veio com um telefonema,
sem deixar dormir a véspera
ou sonhar uma espera diferente.

Instalou-se de costas para nós,
mais o seu cortejo de sintomas:
pastoras de rigoroso negro
como velas apagadas,
um pouco de sangue no nariz,
mãos afinal iguais, vazias.

Já não sobra tempo, no meu corpo,
para outra vida. Mas se lhe forçassem
uma canção de embalar, seria apenas
o arco exacto entre o cemitério cobiçado
pelas ondas e a beleza desamparada
de um penhasco a desmoronar-se
eternamente sobre o mar. E eu no fundo.

("This is the reason why I affirm that Kurtz was a remarkable man. He had something to say. He said it. Since I had peeped over the edge myself, I understand better the meaning of his stare, that could not see the flame of the candle, but was wide enough to embrace the whole universe, piercing enough to penetrate all the hearts that beat in the darkness." Joseph Conrad, Heart of Darkness, 1899.)