sábado, 31 de março de 2012

Saudação do Anjo

Mein Flügel ist zum Schwung bereit,
ich kehrte gern zurück,
denn blieb ich auch lebendige Zeit,
ich hätte wenig Glück.

Nobremente pendurado na parede,
Sem olhar para ninguém;
Fui enviado do céu,
Homem descido de um anjo.

É bom o humano em mim
E não me interessa.
Cuido de mais elevados,
Dispenso um rosto.

É um mundo, de onde venho,
Mensurado, profundo, claro.
O que me tem inteiro é,
Ao que parece, milagre.

No coração tenho a vila
De onde Deus me enviou.
O Anjo que o seu selo leva
Não sucumbe ao seu feitiço.

Está a postos minha asa,
Sou todo por voltar atrás:
Ainda que em tempo sem tempo,
Grande sorte não teria.

Meus olhos do mais negro, e pleno,
Meu olhar jamais vazio.
Sei o que venho anunciar,
Sei muitas coisas mais.

Sou não simbólica coisa.
Aquilo que sou significo.
Em vão tocas o sino mágico.
Não faço sentido.

(Gershom Scholem, "Gruß vom Angelus", 1921.
A propósito de Angelus Novus, de Paul Klee.
Tradução minha, do inglês.)