domingo, 13 de maio de 2012

[A música e o homem que faz da morte a vida]

"Foi em Madrid que o descobri, nesse café de jazz, sob um dos ângulos da Plaza del Angel. Tocava um trio húngaro. Viola, clarinete e bateria. Tocavam bem. Isto é, num tom neutro, só conseguido por quem pertença a uma cultura musical, com a sua prática, na qual quando alguns se encontram logo estabelecem sob a música o conhecimento dos sentimentos e a compreensão da serenidade. Fazem música como quem rompe desse modo o silêncio do mundo e logra desse modo encontrar o destino. Os olhos sabem ultrapassar a sombra das suas mão, quase tocam. E a música que praticam condu-los a um jardim onde flutua um halo oscilante entre um fogo invisível e um céu visível."
(João Miguel Fernandes Jorge sobre o Johannes de Ordet.
A Palavra, Lisboa, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, 2007, p. 23.)