O Reboliço ouve rádio de manhã, gosta muito. Está a ouvir no rádio uma voz a ensinar a fazer a sopa de beldroegas e lembra-se das manhãs de sábado quando vinha o Verão: ia com a mãe à praça, comprar o peixe, o pão, a fruta, as verduras, o feijão e o que de fresco chamasse os olhos e as paredes entrançadas da alcofa. Depois, já na bancada da cozinha, branca e muito brilhante que lhe dava forte o sol no mármore - "baixa-me essa persiana, que daqui a nada não se pode estar -, as duas tigelas, uma vazia e a outra carregadinha das beldroegas até ao bordo. As mosquinhas, era o que lhes chamava. Sopa de mosquinhas, que separar as folhas dos talos era como mexer em asas de moscas, assim ovaladas e, ao sol, quase transparentes. A tigela vazia ia-se pondo cheia de asinhas de mosca. Não se usavam os talos na sopa e o do queijo de cabra viria a ser uma inventada descoberta dos lados do Alentejo de cima. No de baixo, e naquela alentejana algarvia bancada com sol aos sábados de manhã, era a erva, batata, azeite, cebola, o sal, a água e mais nada, ou, quando muito, uns ovinhos escalfados. E o peixe a seguir. Grelhado por baixo da janela aberta, por onde o fumo saía em rolos e o calor entrava, branquinho no prato e na goela.